Depois de todo o processo de captação de imagens, desenfreado, compulsivo, caótico, a poeira começa a baixar. Olho o trabalho com estranheza. Percebo um desencaixe entre uma cultura milenar e os plagiados valores ocidentais. Uma angústia provocada pela projeção de indivíduo e o obsoleto ideal coletivo.
São milhões de pessoas que querem ser resgatadas do passado, abandonadas por seus irmãos mais velhos. Lançam sua sorte acotovelando-se pelas ruas das grandes cidades à procura de algo que inunde novamente suas almas ressecadas.
A legião de filhos únicos, jovens fiadores, sacrifica a liberdade e ensina que dentro de cada um de nós existe uma força, uma intenção que precisa ser guiada. Eles carregarão a pirâmide sozinhos. Contemporâneos de gatos e ratos agora, ter é poder – e quem decide o poder de ter está nas esferas kafkianas do partido.
A força coletiva é um grande propulsor que impulsiona as fábricas e o tão invejado crescimento chinês. Uma virtude, sem dúvida, talvez uma bomba-relógio. Por enquanto, a inclusão social e o assistencialismo mantêm a temperatura social amena e a economia aquecida.
A espiritualidade chinesa se dissolve nos novos valores materialistas, os imponentes Budas estão se transformando meramente em atrações turísticas. Os mais idosos praticam tai chi e dançam nos parques, oásis de natureza no meio do caos.
Apesar de muita coisa mal resolvida, depois de uma guerra civil em 1949, o plano frustrado do grande passo adiante promovido por Mao que acabou resultando na grande fome, a revolução cultural de 1966 a 76, veio o pragmatismo de Deng (que assumiu em 78): “Não importa a cor do gato, o que importa é matar o rato”. Foram as bem-sucedidas reformas que originaram o maior movimento de inclusão social da história da humanidade: 500 milhões de chineses saíram da miséria em 20 anos. Essa correnteza humana gerou e continua gerando muito otimismo e esperança.
Um país gigantesco, uma história milenar, uma diversidade étnica absurda. Nos limitamos a fazer um recorte desse momento e comentar através das imagens como as pessoas estão lidando com a nova realidade. Consumo, individualismo, cultura pop, hierarquia social, hedonismo. É nesse ponto que o trabalho se conecta com a Rússia e até Cuba. Existem semelhanças estruturais no que, simultaneamente, os três países estão vivendo.
Uma resposta
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