Estúdio Estudo, de Ricardo Barcellos, desfaz percursos unilaterais em imagens que preservam o emaranhado de passantes anônimos, feito um espelho que carrega todos os corpos e objetos nele refletidos ao longo de sua presença no mundo. A monumentalidade de Percurso (2019) favorece o corpo a corpo com marcas de ancestralidades revisitadas no tempo presente e assimila algumas reflexões acerca de estudos de imagens que o artista explora em estúdios temporários, criados em alto-mar, em sítios arqueológicos ou em correntezas de rios. Lampejos negros (2019) pulsa presenças intermitentes que ocupam o centro do vídeo e fazem desaparecer o clarão que deixa entrever parte da paisagem, fazendo o negativo da imagem pulsar ao movimento de uma canoa que atravessa a vegetação.
A obra que dá título à exposição é a única presença de corpos nesta montagem. Trata-se do esfacelamento de figuras idênticas testemunhadas pelo artista, o sujeito a encarar em seu ambiente de trabalho a iminência do desaparecimento de máquinas de fazer imagens, assim como percebe o medo expresso na face daqueles que testemunham sua própria ameaça. Em todos os casos, imagens rebatidas, despedaçadas ou constituídas de vazios substantivos conseguem gerar espaço para acolher o inominável. Aproximar a matéria densa de elementos vazios e efeitos que alteram a percepção da paisagem e a relação desta com corpos despedaçados são elementos que convidam a mergulhar no céu oceânico de Saudades íntimas alagadas (2021), obra realizada para a exposição, ocasião em que um aparelho de fazer imagens sobrevoou por quilômetros o oceano da costa paulista em busca de horizontes inatingíveis, com os quais o sentir, o desejar e o esperançar são nutridos.
Josué Mattos