O UNIVERSO AZUL É UMA CABINE

A ARMADILHA

200 x 150 x 200 cm
A ARMADILHA – Projeção de vídeo em caixa de vidro com fumaça
00:01:00
2015

Vista parcial da exposição individual, São Paulo – SP, Paço das Artes, 2015

 


A NEGOCIAÇÃO

Vídeo em loop
00:07:02


HORIZONTES DISSIMULADOS

HORIZONTE DISSIMULADO I, 2014
IMPRESSÃO CHROMOGÊNICA MONTADO EM CHAPA DE ALUMÍNIO COMPOSTO COM DOBRADURA CENTRAL
30 X 120 X 20 CM
HORIZONTE DISSIMULADO II, 2014
IMPRESSÃO CHROMOGÊNICA MONTADO EM CHAPA DE ALUMÍNIO COMPOSTO COM DOBRADURA CENTRAL
30 X 120 X 20 CM
HORIZONTE DISSIMULADO III, 2014
IMPRESSÃO CHROMOGÊNICA MONTADO EM CHAPA DE ALUMÍNIO COMPOSTO COM DOBRADURA CENTRAL
30 X 120 X 20 CM
HORIZONTE DISSIMULADO IV, 2014
IMPRESSÃO CHROMOGÊNICA MONTADO EM CHAPA DE ALUMÍNIO COMPOSTO COM DOBRADURA CENTRAL
60 X 120 X 40 CM
HORIZONTE DISSIMULADO V, 2014
IMPRESSÃO CHROMOGÊNICA MONTADO EM CHAPA DE ALUMÍNIO COMPOSTO COM DOBRADURA CENTRAL
60 X 120 X 40 CM
Vista parcial da exposição individual, São Paulo – SP, Paço das Artes, 2015

 


O ACORDO

76 x 100 cm. 2015
O ACORDO
Imagem projetada sobre impressão tridimensional O ACORDO, 2015
IMAGEM PROJETADA SOBRE IMPRESSÃO TRIDIMENSIONAL
76 X 100 CM

 


A TENTATIVA

A TENTATIVA, 2015
MESAS DE MADEIRA JUSTAPOSTAS

O IMPOSSIBILIDADE DO DIA E DA NOITE

Vídeo em loop
00:03:31


O UNIVERSO AZUL É UMA CABINE

Instalação Sonora
00:07:27


Em uma época em que a geração e circulação de imagens alcança um volume sem precedentes na história, me parece importante questionamentos não só a respeito da natureza e conteúdo delas, mas a forma como as percebemos e internalizamos.

O projeto “O Universo azul é uma cabine” parte de entrevistas realizadas com cegos congênitos para questionar as relações com imagens. Os dados colhidos nas entrevistas realizadas pelo artista são traduzidos numa instalação com obras multimídia que dialogam entre si dentro do espaço expositivo. Os trabalhos sempre buscam a colisão dos mundos de quem vê e de quem nunca viu, apontando para as construções simbólicas que resultam do filtro da cultura.

A obra “A armadilha” é composta por uma caixa de vidro equipada de uma pequena máquina de fumaça com temporizador que injeta periodicamente fumaça dentro da caixa. Um vídeo com imagens de pessoas caminhando na rua é projetado dentro da caixa. Essas imagens, pela ação da fumaça, adquirem então uma tridimensionalidade. Quem é cego relata uma « visão » tridimensional, já para quem enxerga, a relação com imagens se dá em duas dimensões. Quem não vê percebe o corpo que ocupa um espaço, quem vê percebe o corpo como se fosse uma imagem ambulante. Além disso, a nuvem é um elemento que metaforiza a circulação das imagens no mundo, não se fixa, é visual, instável, volátil, metaforicamente imagens são hoje armazenadas na nuvem (servidores virtuais). A tentativa de fixar imagens em três dimensões na nuvem encapsulada dentro da caixa aponta para  a inconstância e fragilidade da visão como mediador de nosso mundo interno e externo.

As obras “Horizontes Dissimulados l, ll, lll, IV, V” compõem cinco fotografias laminadas em alumínio de 40cm de altura por 120cm de largura dobradas na horizontal resultando num objeto tridimensional. A dobradura se dá exatamente na linha dos horizontes representados nas imagens. São híbridos entre fotografia e objeto. “Meu sonho é tocar a linha do horizonte” afirma Lara Mara em depoimento. Ser tocado por imagem ou tocar imagem?

A terceira obra, “A Tentativa”, é um objeto de 150 cm de altura por 100 cm de largura composto por pedaços de mesas justapostos, são quinas, dobras e arestas das mesas, aqui é importante o conceito de aderir para se estabelecer, a superfície lisa escapa, uma criança cega em cima de uma mesa fica perdida no infinito. Para os platônicos a ideia de mesa é o verdadeiro, a mesa real já é menos verdadeira e a imagem da mesa é totalmente falsa. Eu penso de maneira diferente: a imagem não é uma ideia ou um conceito enfraquecido, é uma ideia complexificada, é um desenvolvimento do conceito e não um enfraquecimento .

A terceira obra, “A Negociação”, é um vídeo projetado diretamente na parede. No vídeo se observa uma fotografia da lua que, sendo projetada em fumaça, fica se formando e deformando. A Lua é, e sempre foi, um elemento simbólico muito potente do imaginário coletivo. Na fumaça, a imagem se torna instável e luta constantemente para se fixar.

A quarta obra, “O acordo”, é uma fotografia de uma  floresta esculpida com uma impressora 3D num bloco de madeira branca embutida na parede, de 100 cm por 70 cm por 05 cm de espessura. Recebe, através de um projetor digital, a imagem original desta floresta por cima do relevo. Tangível e intangível negociam então sua coexistência nesse trabalho híbrido.

A quinta obra, “A impossibilidade do dia e da noite” é composta por um vídeo    realizado a partir da captação de imagens da Tv sobrepostas na edição , o resultado é o excesso de imagens frenéticas e caóticas. Essas imagens são projetadas no chão da praia a noite a partir de um pequeno projetor que é preso no peito do autor, junto com o projetor é colocada a câmera, esta aponta para o chão como se fosse os olhos, a projeção coincide com o enquadramento da câmera. O resultado é o registro dos pés do autor que caminha sobre as imagens sobrepostas até o momento em que entra no mar e as imagens são arrastadas pelo turbilhão de água, agonizam no movimento do mar até sumir completamente. Essa obra foi feita a partir de pessoas que passaram a ver depois de muitos anos cegos e sucumbiram a colisão de mundos causando depressão e morte.

Por fim um trabalho sonoro, “O Universo azul é uma cabine” com trechos das falas de cinco cegos entrevistados para o projeto pode ser escutado em uma salinha escura no espaço expositivo. As falas de quem nunca foi exposto às imagens que circulam no mundo provocam reflexões importantes e conectam conceitualmente os trabalhos visuais.

Em todas as obras a imagem luta para se estabelecer no mundo, luta para se fixar, luta para sobreviver, seja na “nuvem”, no turbilhão do mar, nas quinas que querem aderir, na floresta que quer se reconciliar com a representação, nos horizontes que querem se emancipar projetam-se para serem tocados.

 

A visão, atravessada pelo filtro da cultura, tem imposto sua hegemonia como sentido mediador da nossa relação com o mundo. O trabalho se propõe a investigar como pessoas que nunca enxergaram constroem um mundo sem a exposição às imagens, quanto mais a cultura condiciona nossa visão, mais limitada ela fica. De tanto ver estamos ficando cegos.